13 janeiro 2011

Ai destino, ai destino

Já realcei aqui, aqui e aqui o meu fascínio pelo mundo da publicidade e a minha particular sensibilidade para o palavreado utilizado. E o anúncio que anexo, da Galp, é um desses exemplos que estimulou a sensibilidade lexical que há em mim.

Sim! Apesar de ser latino e homem, tenho a hombridade de confessar que possuo essa susceptibilidade sem me caírem os parentes na lama. Eu reajo de forma intelectualmente descontrolada quando a minha sensibilidade lexical é estimulada. Apesar de nunca ter frequentado qualquer consultório de psicologia devo sofrer de uma espécie de lexicalização precoce, tal a rapidez com que consigo percepcionar num pequeno texto a parvoíce. Agora que já falei de sexo e captei a vossa atenção, posso então continuar com os considerandos lexicais…




Num país em que se abusa de expressões como “Uma desgraça nunca vem só” ou “Como é que vai? Vai-se andando”, “Vou mais ou menos”, “Quando mal nunca pior” ou “Podia estar pior”. Ou seja, um pais que vive à beirinha da fatalidade e que quando ela acontece se usam expressões como, “foi o destino”, “tinha o destino marcado”, “assim quis o destino” ou ainda, “tinha o destino mal traçado”, e que tem grandes êxitos musicais como, “O destino marca a hora” ou “Ai destino, ai destino”, em suma, numa nação em que o povo lava no rio mas, ao mesmo tempo, talha com o seu machado as tábuas do caixão de alguém, já a pensar no seu inevitável fado, é preciso, digo eu, ter muito cuidado quando se pretende usar o nome masculino “destino” o verbo “ir” e o termo “juntos”.

Se conseguirem seguir o meu ridículo raciocínio, facilmente se depreenderá que o anúncio da gasolineira, não bastando o preço dos combustíveis que estão pela hora da morte, propõe aos tugas que podemos ir todos juntos para uma espécie de genocídio. E onde estão as pessoas que deveriam estar nos bancos? Qual foi o seu destino? Com a sinistralidade nas nossas estradas, deve ter sido uma grande fatalidade pois nem chapa sobrou…

Enfim, para terminar e acalmar a minha excitação lexical, que já vai longa (isto só para captar outra vez a vossa atenção):

Eu por mim sigo a máxima, temos todos o mesmo destino “mas cada um vai quando tiver que ir”, na sua vez ou quando o destino marcar. Se formos todos juntos para o nosso inevitável destino quem é que fica cá para contar a história?

Deixo apenas um recado para a Galp: pensem um bocadinho nisto e mudem lá o anúncio para, “Se vamos para o mesmo local porque não irmos juntos” ou “, Se vamos para a mesma rua…”ou “ Se trabalhamos no mesmo local…” ou ainda, “Se vamos para a mesma cidade…” retirando a palavra “destino” pois bem basta a crise, o governo, os candidatos a presidente e todas essas desgraças, que contribuem todos dias para o nosso triste fado…

Pronto era tudo! Vou marcar ali uma consulta de psicoterapia para ver melhoro porque isto já não vai lá só com comprimidos…Bjs e abraços e não se preocupem que eu fico bem!

2 comentários:

  1. "Eu reajo de forma intelectualmente descontrolada quando a minha sensibilidade lexical é estimulada" e "a minha excitação lexical, que já vai longa" :)))
    Muito bom estás cada vez pior e isso é muito bom, para nós. Continua.
    Abraço
    José

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  2. Eu gosto disto aqui porque também sofro dessa doença, mas como sou tão distraída, os "Peru Menores" (uma piada sem graça), passam-me sempre ao lado, mas tu não, olhas e pimba já está. Beijos
    Catarina

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